Artigo - Oduvaldo Donnini


ESQUERDA, CENTRO, CENTRO ESQUERDA, EXTREMA ESQUERDA, CENTRO DIREITA, DIREITA E EXTREMA DIREITA. HÁ ALGUM SENTIDO NISSO ATUALMENTE?


            Fui um colaborador direto na fundação do Partido Socialista Brasileiro, em 1947, no Rio de Janeiro, ideologicamente, ao menos entre a maioria de seus integrantes, um partido que seguia uma posição socialista democrática. Com o golpe militar de 1964, passei a ser um ferrenho crítico da ditadura que se instalara no Brasil e que tantos prejuízos nos causou. Enfrentei, como professor universitário, jornalista e advogado, a censura, a tortura e a perseguição política, típicas de qualquer regime totalitário. Naquela época, imaginava uma União Soviética (URSS) em que as diferenças sociais tendiam a desaparecer, mas questionava o regime de força que ali se instalara. Entretanto, não tinha certeza desse fato, mas sabia que seus cidadãos não podiam deixar o país.         


            Pois bem. Contrariando a todos, que imaginavam que minha vida pudesse ser ceifada da mesma maneira como sucedeu com Vladimir Herzog, em outubro de 1975, viajei para Moscou três meses depois. Em lá chegando, dirigi-me à Universidade de Lumumba, onde conversei com vários estudantes e professores, além de fazer um turismo direcionado pela capital, em que vários lugares o acesso era proibido. Notei, assim, pelos encontros com acadêmicos de outros países, que me sussurravam atrocidades do regime, uma simples ditadura de esquerda, a mesma que nos anos 1960 e 1970 muitos queriam instituir aqui, à semelhança do modelo cubano.


            Ao retornar ao Brasil, para minha sorte (diferentemente de Herzog), fui preso como subversivo e fiquei pouco tempo no DOPS (Departamento de Ordem Política e Social). Contudo, imaginava ainda ser possível um regime socialista democrático, da forma europeia, mas completamente diferente daquele imposto na então URSS.


            Em 1990, logo após a queda do muro de Berlim, por curiosidade, conheci a falida Alemanha Oriental: um cenário catastrófico, com cidades imundas, população triste e assustada, infraestrutura sofrível, enfim um caos generalizado, algo semelhante aos regimes bolivarianos. A sensação era de um retorno civilizatório de muitas décadas.


            Com o fim da URSS, a noção de esquerda e direita transformou-se sobremaneira, uma vez que o mundo, exceção feita a Cuba e Coréia do Norte, duas ditaduras sanguinárias, passou a ser capitalista.


            Atualmente, o discurso de “esquerda” ou de “direita”, com extremidades ou não, de centro ou centro esquerda e centro direita, perdeu completamente o sentido. Nossa denominada “esquerda”, cujos integrantes, salvo exceções, jamais leram Marx ou Engels, absorveu praticamente todos os discursos, tais como: a) o da “ajuda aos pobres”, como se isso não fosse um dever do Estado e da sociedade (Constituição Federal, art. 3º, III) e do “politicamente correto”; b) o da “proteção” às minorias, como se inexistissem leis para tanto; c) o da criação de estatais e da intervenção constante e injustificada do Estado na economia, mesma estratégia da ditadura militar brasileira, que já se mostrara terrível e que, agora, levou o país à sua maior recessão da história; d) o da tentativa velada de censura à imprensa, nos moldes de qualquer regime totalitário, entre outros. O que seria, portanto, um pensamento atualmente de direita ou de centro? Consigo vislumbrar algo como um Estado liberal ou pouco intervencionista na economia, com redução da carga tributária, mais igualdade na relação entre empregador e empregado, incentivo à criação de pequenas e médias empresas e geração mais empregos.


            Com relação ao pensamento daqueles que se denominam de “extrema esquerda”, falta-lhes conhecimento histórico, pois ditaduras ditas “comunistas” não mais existem, foram um absoluto fracasso (insisto: apenas Cuba e Coréia do Norte) e todas desmoronaram após a queda do muro. Na verdade, nunca existiram, pois não se atingiu em nenhum lugar o utópico patamar de igualdade na população. Quanto às ideias de “extrema direita”, aqueles que a almejam imaginam um militar “salvador da pátria” que, à força, destruindo um regime democrático que ainda não se consolidou, tolhendo as liberdades individuais, “resolva” todas as mazelas nacionais. Ledo engano. Pura ignorância. Nunca deu certo.


            Dessa forma, há hoje, se tivermos de dividir em duas ideologias o posicionamento político nacional, os liberais e os antiliberais. Os primeiros pregam um Estado menor, que se dedique fundamentalmente à educação, à saúde e à segurança e deixe a economia nas mãos da iniciativa privada. Os segundos (antiliberais) querem um Estado forte, intervencionista, e muitas estatais (já temos, somente no plano federal, 154), para a criação de muitos cargos a serem preenchidos por seus correligionários, simpatizantes etc., com altos salários e produtividade mínima ou nula. Portanto, falar em “esquerda” e “direita” é retórica do atraso, daquilo que não faz mais qualquer sentido.


                                                                                              O. Donnini, jornalista


 


 


 


 


 


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